quarta-feira, 28 de março de 2012

Cordas, Sopros, Percussões e um Teclado Esfaqueado




Retorno ao blog para desapontá-los mais uma vez, mas no post de regresso eu tratarei de algo NADA desapontador.

Ontem eu, a namorada e um grupo considerável de amigos, conhecidos e desconhecidos nos encaminhamos para o Centro Cultural da Justiça Federal para assistirmos a uma apresentação ímpar. Mesmo antes de chegarmos lá, a apresentação já era ímpar: Era um concerto da Orquestra de Solistas do Rio de Janeiro com uma proposta muito incomum: Tocar um programa composto por versões de músicas do grupo Emerson, Lake & Palmer.

Se você desconhece o Emerson, Lake & Palmer, acho que eu não posso fazer muita coisa pela sua alma, e não vou gastar caracteres com você, mortal! OK, é brincadeira, e aí vai um pouco de histórico: O ELP foi um dos grandes nomes do cenário setentista de Rock Progressivo, que começou com a junção de três jovens ingleses cabeludos e virtuosos (os três vindos de bandas anteriores com alguma notoriedade) com o ideal de misturar música clássica, música folk, eletricidade e salada de neurocirurgia. O repertório da banda contava com composições próprias mescladas a releituras de música clássica (ideia responsável pela visibilidade inicial do grupo), tudo isso executado com um contrabaixo muito bem colocado nas músicas, pelas mãos do também vocalista Greg Lake, uma bateria ultrarresistente (porque o Carl Palmer batia nela com uma ferocidade assustadora), e os múltiplos teclados, órgãos, sintetizadores, mesas de som e outros aparatos tecnológicos de Keith Emerson. Este último, na minha opinião, o grande gênio do trio, era tão enérgico nas suas interpretações que montava em cima de um dos órgãos pneumáticos para distorcer o som, e enfiava punhais nele. Tudo em prol da sonoridade e do espetáculo, é claro. Enfim, o grupo era muito bom, muito explosivo e muito melódico também.

E é aí que entra a Orquestra de Solistas com uma sagacidade interessante: Por que não percorrer o caminho contrário e adaptar as composições do trio para orquestra? Com os arranjos do percussionista, Philipe Davis, eles nos presentearam com uma apresentação absolutamente bem-feita. Os arranjos foram muito bem pensados, e imagino o quando não deve ter sido trabalhoso (e prazeroso) fazer a conversão das linhas de baixo e teclado para os instrumentos clássicos apresentados. Os caras apelaram bastante também na hora de selecionar o repertório da apresentação que, embora curta, continha uma seleção muito digna: Só melodias que, para um fã, explodiram o cerne da alma.

Sobre a performance, a orquestra estava muito sintonizada, os músicos pareciam estar bem a vontade com o público (o teatro, além de tudo, era bem pequeno), e o maestro conduziu a trupe com bastante leveza, que não escondeu sua técnica em momento algum. Aliás, ele é bem simpático, e interagiu com o público como em um show de rock and roll mesmo, sem aquela impessoalidade austera de lorde Sith de maestros como Karajan. Toda a orquestra parecia estar se divertindo muito e acredito que, mesmo com a responsabilidade sobre os ombros, de estar realizando um espetáculo singular e referencial como aquele, eles estavam se divertindo mais do que a gente. A mezzo-soprano que realizou os vocais em "Jerusalem" (aliás, uma grata surpresa, pois é uma das minhas preferidas do ELP) tinha uma ótima técnica, e uma presença bem marcante da voz. Os versos de William Blake tomaram impulso no diafragma dela e ficaram muito bem executados (muito embora eu não seja o maior fã de vocal lírico feminino). Só senti falta de um tanto mais de explosão nesta versão especificamente. Percussão, talvez. O fagote marcando alguns graves, com aquele tom marcial que ele tem. Talvez um trompete para executar as linhas de teclado da segunda estrofe. Mas os arranjos foram feitos por um músico de verdade, e não por um blogueiro-microbiologista-idiota como eu, e ele sabe (muito bem) o que faz.

Outro bônus fantástico foi a composição do trompetista (acho que Gilson Santos, desculpem-me se eu errei), "Libras". Muito bem-feita, e com a ideia base (imitar com os movimentos do trompete uma conversa na Linguagem Brasileira de Sinais)

O concerto foi curto e (mesmo com o inesperado Bis da primeira impressão de "Karn Evil 9") não chegou a duas horas. Deixou muita vontade de mais. Pergunto-me como teria ficado "Tarkus" (insistentemente pedida pelo casal atrás de nós), "A Time and a Place", "Knife's Edge", "Living Sin" e alguma bem Honky-Tonk, como "The Sheriff" ou "Jeremy Bender". Enfim, por mim, eles tocavam toda a carreira dos caras, e eu não iria mesmo me importar.

No fim das contas, fica aqui a vontade de mais concertos como esse. E caso Philipe Davis leia esse post, reforço o que falei: Os álbuns antigos do Genesis (aqueles com o Peter Gabriel) também merecem um concerto similar. Bem como Focus, Jethro Tull, The Doors (que também tinha bastante influência clássica), o Meddle, do Pink Floyd, o In the Court of the Crimson King, do King Crimson(maravilhoso, além de contar com o Greg Lake como vocalista), uma possível adaptação de Godspeed You! Black Emperor e Silver Mount Zion (dois dos poucos nomes atuais que têm realmente muita criatividade) e provavelmente muitos outros artistas e álbuns mereceriam homenagens como essas.

Enfim, que os caras continuem o ótimo trabalho deles. E vocês, meus raros leitores, quando surgir a oportunidade de assistir a uma apresentação da OSRJ (especialmente se eles reapresentarem o espetáculo do ELP) agarrem esta oportunidade. Além de tudo, foi "cinco reau" para estudante.

É isso, manada de leitores enfurecidos. Estou de volta no blog, mas vou perder muito da minha periodicidade, pois é ano de monografia, e eu deveria estar escrevendo a minha, ao invés de me dirigir a vocês. Mas a Orquestra merece!

Semana que vem tem mais um post sobre música, mas ele será mais espiritual, analítico e reflexivo, e bem menos groupie empolgado com o concerto, OK?

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Poluição Quântica

Disclaimer: Estou postando com um dia de adiantamento porque há eras esse post está na minha cabeça, mas ainda não tinha pensado em como dar forma a ele. Junte uma espera forçada e um pouco de "Silver Mt. Zion" na cabeça, e temos um post. Vamos a ele:

Em "Ecologia Microbiana", uma matéria de minha graduação, fui apresentado ao seguinte conceito de Poluição: Qualquer alteração ou distúrbio no equilíbrio de um sistema ecológico. Isso foi uma paráfrase safada do conceito que nos foi realmente passado, mas equivaleria a dizer que qualquer alteração, por mais ínfima que seja, em um sistema ecológico, como pisar em uma poça de lama e depois na grama, carreando nutrientes e organismos de um ponto para o outro, já poderia ser chamado, de certa forma, de poluição, mesmo que ela seja autolimitada (ambos os sistemas têm, a mais ou menos curto prazo, a capacidade de retornar ao equilíbrio).

Aviso que, neste ponto, começa a viagem real do post. Convido-os a escutar "Silver Mt. Zion" também. Ou Pink Floyd, ou o que quer que lhe ajude a ficar confortável e seguir um fluxo esquizóide de raciocínio que, provavelmente, não fará muito sentido.

O estudo da Física Quântica ou Física de Partículas nos traz a teoria de que todo observador pode, e involuntariamente exerce uma influência no ponto ou fenômeno observado. Existem várias tentativas de explicar matematicamente o fenômeno, e alguns experimentos já chegaram a dar certo. Eu mesmo não entendi muito bem o princípio de boa parte daqueles sobre os quais eu li, mas pensem comigo... Se, ao observar algo, alteramos parte da natureza subatômica dessa alguma coisa, causando o que pode ser interpretado como desequilíbrio, ou alteração do "estado pré-observação" dessa partícula, não seria o próprio ato de observar um tipo diferente, reduzido e imprevisível de poluição?

Eu lembro-me de ter passeado com minha família uma vez, no aniversário do meu pai, para um parque ecológico em Jardim dos Pinhais e, uma vez lá, minha compulsão era a de não apenas olhar atentamente cada detalhe, mas fotografar plantas, pegadas, animais, pedras e todo o tipo de coisas. A minha pergunta principal é: O quanto será que olhar e, talvez ainda pior, fotografar uma paisagem classifica-se como uma forma sutil de poluição?

De uma forma bem menos abstrata, fotografias com flash claramente introduzem uma alteração luminosa visível que pode interferir com compostos químicos e, talvez, até mesmo com a expressão gênica de micro-organismos. Isso poderia ser, em uma dose-minuto, considerado sim uma alteração, talvez até mesmo nociva ao equilíbrio do sistema fotografado. Mas e se mesmo a simples captação da luz por um sistema óptico (sendo esse um olho animal ou uma câmera), sugando os rejeitos luminosos dos sistemas que refletem e absorvem espectros seletivamente? Será que mesmo sem introduzir um indesejável facho de luz a uma paisagem, estamos poluindo-na?

Eu realmente gostaria dessas respostas. Aliás, eu realmente gostaria de discutir isso, uma vez que nunca teremos a resposta definitiva para questões como essa (bem como o próprio Efeito Observador e o Princípio da Incerteza de um cara de nome estranho Heisenberg nos dizem que nunca teremos a resposta definitiva para nada). Gostaria de companhia para especular se somos, a partir do momento em que começamos a existir, grandes poluidores de sistemas, alterando a natureza de todas as coisas com nossos cinco perversos sentidos. E não apenas nós, como qualquer animal senciente e, talvez, até mesmo seres vivos que não descobrirmos ser sencientes ainda. Afinal de contas, quase qualquer coisa pode se eleger como "observador".

Me ajudem nessa questão. Seria muito bom que as pessoas comentassem aqui embaixo. Espero ter sido claro quanto à pergunta, e espero que me ajudem a prospectar por uma resposta, e espero que pensem nisso diariamente, especulando silenciosamente junto comigo quanto à natureza de nossos atos, e quanto à possibilidade de sermos grandes destruidores de partículas que sequer chegamos a conhecer ou compreender.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Olhos fendidos e bigodes...

... E orelhas

Disclaimer: Bem, crianças, hoje farei um post bem curto, OK? Estou um tanto cansado de escrever (fiz isso um pouquinho considerável hoje), mas vou tentar manter minha disciplina. Além disso, acho que encher o blog de textos imensos pode ser uma boa forma de repelir leitores, e não é isso que eu quero. Uma imagem, e podemos passar para o tópico principal do post de hoje:


Pois é... Vamos falar sobre gatos. Enquanto eu escrevo este post (e, no processo, penso o quão gay esse post vai parecer), vou tentar falar um pouco sobre esses animais de estimação que, no Brasil, creio que tenham uma fanbase menor do que os cachorros.

Tenho me interessado muito por gatos ultimamente. Esse post, apesar de parecer, não é uma homenagem a Lia Guedes. Ou, apesar de não parecer, ele é uma homenagem a Lia Guedes. Escolha uma vertente e tome-a para si, OK? Mas, sendo ou não uma homenagem a Lia Guedes, é um fato concreto que o meu contato com gatos se estreitou depois de estreitar meu contato com a Crazy Cat Lady mais próxima de mim atualmente (afinal de contas, é a minha namorada, certo?).

Esses animais primariamente carnívoros têm uma psicologia muito complexa. Gatos têm muita variação de humor, e o mesmo animal que estava sem paciência e irritável (que chamaremos aqui de "Ideafix-Way-Of-Being-a-Cat" - Ideafix sendo o gato mais foda que eu já vi) pode, a qualquer momento, vir até você e te pedir carinho. O interessante é que a independência (de alguns) deles faz com que você saiba que é importante para o animal em questão, mas ainda assim conseguindo ter bastante tempo para pensar nas suas coisas, trabalhar e etc. É a melhor forma de interação entre um homem e um animal: Aquela na qual os dois sabem que se gostam, sem precisar ficar grudados o tempo todo. Se vocês pensarem na maioria dos relacionamentos por aí, (pelo menos com algumas das minhas ex - não fiquem magoadas) se algumas pessoas fossem menos caninas, e mais felinas, elas teriam relacionamentos mais saudáveis.

Além disso, gatos têm uma imponência que denota sabedoria (não que eu ache que eles podem ver coisas que nós não podemos, isso não faz sentido para mim), o que é bem admirável, e faz dos felinos animais de porte respeitável. A forma meticulosa e ágil com a qual os gatos se movem são capazes de fazer pessoas estabanadas como eu sentirem-se verdadeiras idiotas. Enfim, o post não é bem sobre isso.

O que eu queria realmente analisar é o fato de vários escritores serem declarados fãs de gatos. Neil Gaiman é assim, e li em algum lugar uma quote dele dizendo algo como "As pessoas deveriam prestar mais atenção no que os seus gatos tentam lhes dizer" ou algo assim (desculpe, Neil, eu tentei o Google). Além dele, Lourenço Mutarelli cria gatos; William Burroughs gostava tanto deles que fez um livro inteiro contando sobre sua relação com seus gatos ("The Cat Inside", ou "O Gato por Dentro", como foi traduzido no Brasil). Li que Mark Twain também era fã de gatos. E um de meus maiores ídolos literários, H.P. Lovecraft gostava tanto de gatos que criou uma cidade em suas Dreamlands na qual nenhum homem deve matar um gato, e na qual os gatos e os homens que entendem sua língua podem se comunicar. Dedicar uma importante cidade como Ulthar aos seus amigos felinos é uma declaração bem interessante.

Pois bem, um dos livros nos quais trabalho no momento tem como protagonista principal um terráqueo de um Universo Paralelo, no qual a humanidade evoluiu a partir de gatos. Por paranoias alimentadas por copyright, não serei eu a entrar em maiores detalhes da obra aqui, mas vale dizer que comecei esse livro antes de ter contato maior com essas criaturas vomitadoras de bola de pelo. Sempre gostei deles, sempre os admirei, apesar de agora ter realmente a vontade ativa de criá-los num futuro não tão distante. A pergunta principal desse post é: por que escritores gostam tanto de gatos?

Para somar à discussão, não acho que eu, Neil Gaiman, William Burroughs, Mark Twain e Lourenço Mutarelli tenhamos estilos de vida e de pensamento tão parecidos entre nós, que nos coloquem numa gaveta rotulada "Pessoas com psicológico próximo; Gostam de Gatos". Mark Twain adorava falar em público, e até ganhava dinheiro com algo muito similar a Stand-Up Comedy; Neil Gaiman viaja por todo o mundo, e parece ser um cara realmente amigável. É fato que esses dois são até bem parecidos, mas o que dizer de William Burroughs? Burroughs se alternava entre reclusão e experiência social e, embora colaborasse com vários artistas (em várias formas de arte, inclusive na montagem de um musical com Tom Waits), não era, ao que parece, um cara muito saído. Era controversamente introspectivo e recluso, e extrapolava isso em tempos de loucura e uso máximo de drogas pesadas. Lourenço Mutarelli, por outro lado é um cara bem recluso (pelo menos, segundo ele mesmo), que já passou por muitas coisas estranhas na vida e, hoje em dia, prefere ficar em casa trabalhando e curtindo a família. E os gatos.

Eu vivo muito bem sem vida norturna, mas não vivo nada bem sem meus amigos. Odeio sair, chegar tarde em casa, definitivamente não gosto de multidões (a não ser em shows, e, ainda assim, apenas de bandas que me atraem), e tenho um pouco de medo de cidades grandes. Dos previamente citados, acho que apenas eu e Mark Twain temos predileção forte pela ciência. Não que os outros citados não tenham, mas Mark Twain era idólatra de Nikola Tesla (aliás, quem não é?), e eu tento fazer ciência no laboratório (e também corto o dedo). Enfim... Gostaria de entender o motivo, provavelmente não baseado em comportamento, que faz com que os escritores e os gatos domésticos sejam próximos. Pelo menos os escritores que eu admiro. E eu mesmo.

Enfim, esse post ficou maior do que eu gostaria, e eu demorei mais para escrevê-lo do que eu gostaria. Talvez ele seja um erro, e talvez eu me arrependa muito quando eu estiver lendo isso tudo de novo. Talvez tenha um gato do meu lado, felinando como se não houvesse amanhã, provavelmente deitado olhando para o nada, e pensando em sabe-lá-o-que... Mas é que outro dia me peguei pensando nisso, e resolvi escrever a respeito. Talvez eu mesmo tenha me impressionado por isso, e tenha começado meu gosto por gatos depois de saber que o Gaiman gosta deles. Mas eu sinceramente acho que não, porque se eu fosse "groupie" desse jeito, eu teria de... Sei lá... Parar de beber porque o Lovecraft não bebia.

O fato é que é uma pergunta boba, e provavelmente pode-se encontrar qualquer padrão em qualquer tipo de gente. Mas foda-se. O que importa é que eu terminei esse post.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

CENSURADO

Eu ia tentar me afastar de falar sobre SOPA, PIPA e essas outras leis que têm uma sonoridade especialmente engraçada para os brasileiros. Mas aí eu pensei em algo para dizer sobre direitos autorais, e achei que fazia realmente um pouco de sentido, portanto aí vai:

Como vocês sabem (a quem quer que eu esteja me dirigindo no momento), eu sou fã de H.P. Lovecraft. Para quem não sabe quem é: Cara, eu até te entendo, mas você deveria ler algo a respeito dele, ou melhor ainda, algo que ele tenha escrito. Mas resumindo, Lovecraft foi um escritor de ficção que atuou do fim dos anos 1910 até o início dos anos 1930, e ele era MUITO bom. Ele escrevia sobre um tipo de horror ainda inédito que recebeu a alcunha de "horror cósmico". Junto com um time de amigos escritores, o cara criou um universo super coerente de criaturas, abominações, e entidades sobrenaturais, os chamados Cthulhu Mythos. Então... Existe uma parte sutil na frase anterior, e eu quero que você tente descobrir antes de pular para o próximo parágrafo.

Descobriu? Para ser democrático, revelo aqui que a parte sutil era "junto com um time de amigos escritores". Entendem? O que aconteceu é que o Howard começou a escrever, e a definir algumas das criaturas de seu Universo. Depois de já ter publicado alguns contos sobre as abominações tentaculares saídas da sua cabeça imaginativa, Lovecraft conheceu alguns outros escritores de ficção (em geral por correspondência), e pouco tempo depois, alguns deles começaram a colaborar com histórias de autoria própria, para a consolidação não apenas do Universo de Lovecraft, mas também da literatura moderna de horror. Guardem essa informação.

Uma outra história é a do famoso autor de paródias musicais Weird Al Yancovic, e sua versão para a música "You're Beautiful", de James Blunt. Weird Al escreveu uma paródia para essa música, uma versão muito engraçada chamada "You're pitiful". James Blunt gostou da versão, e deu o aval para que o cantor gravasse a música, que Al pretendia lançar como principal single do álbum "Straigh Outta Lynwood". Porém, quando a música iria ser lançada, a Atlantic Records, gravadora do primeiro álbum de James Blunt vetou seu lançamento, dizendo que ainda estava muito cedo na carreira de James Blunt para ter uma paródia lançada. Diziam que isso poderia dar ao cantor a fama de um "One Hit Man".

Perceberam o contraste? A primeira história aconteceu na década de vinte, e a outra em 2006, apenas 80 anos depois. Será que a humanidade pode ter ficado tão idiota assim em míseros oitenta anos? Refletindo sobre o que eu falei, vocês tiram que James Blunt compôs, escreveu e gravou sua música, e a palavra final sobre a possibilidade de uma paródia não estava em suas mãos. Então que porra é essa de "Propriedade Intelectual"? Quer dizer que quando o artista é lançado por uma gravadora, ele vira propriedade intelectual, certo? Porque se não for isso que dizem os contratos, e sobre isso que gira a PIPA, eu juro que eu não entendo o que há de errado com o mundo.

A realidade é que o próprio H.P. Lovecraft utilizou as ideias de alguns de seus contemporâneos. Invenções de outros escritores ambientadas em seu Universo foram incorporadas por ele. Não foram muitas, mas aconteceu. Além disso, ele mesmo, em suas correspondências com os amigos, explicava detalhes sobre seu Universo, para que eles pudessem fazer um trabalho direitinho. E aí, alguns anos depois, se eu quiser escrever um Fanfic de Twin Peaks, por exemplo, mesmo que o próprio David Lynch goste do que eu fiz, eu corro o risco de me foder em um processo por causa da CBS? Que mundo é esse em que vivemos?

Se August Derleth (talvez o segundo autor que mais escreveu sobre os Mythos de Cthulhu), Clark Ashton Smith e Robert E. Howard tivessem sido processados por violação das leis de Copyright, certamente a literatura moderna seria diferente. Quando E. Howard citou o Necronomicon de Lovecraft em uma história, os EUA e parte do mundo estavam em crise econômica, e escritores (como eu bem sei) não são conhecidos por serem muito ricos. Só o Paulo Coelho. Talvez mais um ou dois. Mas então, provavelmente não teríamos os vários contos envolvendo os Mythos escritas por Derleth (que contribuiu com bastante coisa, embora tenha deturpado um tanto a ausência de maniqueísmo envolvendo as entidades cósmicas). Além disso, provavelmente não conheceríamos o Conan de Robert E. Howard, e isso já teria um bom impacto na nossa cultura pop.

Várias outras coisas não teriam acontecido: Os Beatles, que começaram gravando músicas antigas ainda como os Quarrymen... Acredito eu que os Inklings (grupo do qual fizeram parte Tolkien, autor de "O Senhor dos Aneis", e C.S. Lewis (autor de "As Crônicas de Nárnia") também trocassem bastantes ideias. E isso apenas vinte anos antes de o Led Zeppelin ter sido processado pela homenagem musical que fizeram a Sonny Boy Williamson II, com "Bring it On Home".

De lá para cá, a arte está ficando cada vez mais fechada, e os autores que querem revisitar alguma obra têm de esperar que ela caia em domínio público. Ou isso ou se render à vontade dos detentores dos direitos autorais, que provavelmente nem conhecem a obra direito. Daqui a pouco desenhar qualquer super-herói vai ser motivo para o Stan Lee te processar por ter roubado o conceito do Gavião Arqueiro. Por que a arte não pode ser propriedade de todos? As pessoas não têm o discernimento de escolher quais artistas são bons para elas, e investirem neles livremente? Porque eu compro os filmes e os álbuns de música que consigo comprar, quando sinto que a banda ou o diretor em questão merecem... E tudo isso para a Atlantic Records ganhar grande parte da soma, ao invés do artista?

Pensem nisso, e vejam se o mundo está melhor assim ou não.

E só para deixar o adendo de que, se as obras fossem liberadas para download gratuito, os discos / filmes / livros teriam de acabar se tornando um tanto mais baratos, para ter o atrativo que faria as pessoas gastarem seu dinheiro e darem suporte ao artista. Fora que o próprio instinto de fã já faria este trabalho. A única coisa que me limita de comprar mídia a todo instante é a falta de dinheiro para tal. É isso o que eu queria dizer... Comentem e digam se faz sentido.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Análise: "Quando meu pai se encontrou com o ET fazia um dia Quente" - Lourenço Mutarelli


Bem... Essa análise começa contando uma história.

Eu tinha uns dezessete anos quando assisti "O Cheiro do Ralo" pela primeira vez. Meu irmão tinha pego com um amigo, e estava de bobeira em casa... Coloquei para rolar no DVD e não sabia o que me esperava. Acabou por me impressionar muito, principalmente pela forma existencialista-decadentista pela qual vemos o mundo no filme. Talvez, através daquele olho (que é bem claro para quem realmente assistiu o filme ou leu a obra).

Foi então que resolvi ir atrás de mais informações sobre o filme (minha atual Wikimania já apresentava sintomas nessa época). E fiquei muito interessado na obra do escritor, Lourenço Mutarelli. Comprei, no mesmo ano, "A Arte de Produzir Efeito sem Causa", e ganhei de meu irmão (depois de empurrar o livro para ele dizendo "Você tem que ler isso! É impressionante!") o mais do que ilustre "Natimorto". Ambos os livros me causaram uma ótima impressão, e têm um fluxo e um desfecho tão surpreendentes quanto cada uma das outras linhas.

Sempre criando um teatro de absurdo a partir de sanidades frágeis, Mutarelli vêm, desde sua estreia autoral em Quadrinhos esquizofrênicos e pesados, criado personagens que encaram um mundo doente como qualquer um encararia: Com medo, desesperança... Incorporando essa doença a seu ser, as pessoas saídas da mente de Lourenço não poderiam ser mais anormais do que qualquer um de nós, inseridos em ambientes tão complicados e pesados quanto as ambientações deles.

Quando fechei a contra-capa do mais novo álbum do autor, o fantástico "Quando meu pai se encontrou com o ET fazia um dia quente", eu tinha duas conclusões em mente: A primeira era clara: "Eu preciso ler essa porra de novo", e a segunda é "Essa história é mesmo de Lourenço Mutarelli?". Explicando, o álbum traz imagens em ordem não cronológica servindo de ilustrações / pano de fundo para uma história contada em ordem cronológica. Por isso da primeira certeza. A segunda se deriva do fato de que a perda de conexão com a realidade imediata (ou o que quer que tenhamos por realidade), apesar de presente, apresenta-se de uma forma muito mais leve e branda, beirando mesmo ao emotivo e ao tocante. Não que medo e angústia não sejam emoções. Mas uso "emotivo" aqui no sentido mais utilizado da palavra. É, de fato, uma obra tocante. Entraria em mais detalhes do porquê, mas correria o risco de revelar demais sobre o enredo.

Bastaria dizer, então, que é um livro envolvendo as relações de um filho com seus pais. Especialmente com o pai. Essas relações são apresentadas em uma narrativa que gira em torno dos dias que precederam a internação do pai em um asilo. E o tal ET? Tente ler o livro e tirar suas próprias conclusões a respeito. Com minimalismo de palavras e um tratamento gráfico impecável, Lourenço mais uma vez nos traz uma visão subjetiva e interpretável daquele ponto em nossa mente onde alucinação, sonho e memórias se fundem.

Enfim... Isso foi uma review sobre o Livro, e eu os aconselharia fortemente a comprá-lo. Não é caro, principalmente levando em conta o ótimo trabalho de impressão, encadernação... É realmente uma edição de luxo, em capa-dura e sem um milímetro de página não-ilustrado. Tentem arranjar também, como eu ainda estou no caminho de conseguir, as outras obras do escritor que, ao demonstrar sua versatilidade nesta história emocionante, firma-se cada vez mais, na minha opinião, como um dos escritores mais talentosos do Brasil desta era.

Agora, dois casos pessoais:

1 - A Adaptação para Cinema de "O Natimorto", com o próprio Lourenço Mutarelli atuando, ao lado da expressiva Simone Spoladore e da convidada de papel enojante (A Esposa), Beth Goffman, é incrível. Tive o prazer de assisti-lo na última sessão de todas da exibição no circuito do Rio, no Unibanco Arteplex. Chamei muita gente, mas só foram duas: O Caio, um de meus melhores amigos atualmente e a Ligia que, agora, tornou-se minha namorada. Na época ela era apenas uma amiga, e foi esse filme perturbador (e excelente adaptação, aliás) nosso primeiro encontro. Não que imaginássemos nossa atual situação... Mas...

2 - Na noite de Lançamento do álbum sobre o qual discorri prolixamente nesse blog, eu estava lá, e pude conversar um pouco com Lourenço Mutarelli em pessoa. O autor é muitíssimo gente fina, com sua voz calma e pausada, como quem está dividindo-se entre simpatizar com as pessoas à volta e sentir uma imensa vergonha de interagir com elas. Conversamos um pouco, e ele autografou meu Natimorto. Dei a ele uma cópia pouquíssimo confiável do meu primeiro livro fechado, similar a uma "zine" encadernada com espiral e, obviamente, com tiragem limitada, uma vez que eu sequer entrei em contato com qualquer editora a respeito. E qual foi minha surpresa quando Mutarelli, num gesto que me surpreendeu bizarramente, me DEU uma cópia do álbum novo.

Portanto, o livro que li duas vezes e sobre o qual eu tive uma discussão muito produtiva com a senhora minha mãe foi um autografado presente de um dos meus ídolos literários. Emerson, Lake & Palmer teriam algo a dizer... E isso seria "Uhm, Such a Lucky Man he Was..."

Então fica aqui minha review e a minha tirada de onda. Até mais você, quem quer que seja, e obrigado por estar acessando a primeira postagem tr00 da CDU.

Abraços!

(E um Obrigado nominal para o Lucas Melo de Almeida, aka Duque de Waldeck, que foi quem me informou da noite de autógrafos! Obrigado, bronson!)

domingo, 22 de janeiro de 2012

Começando

Como ninguém nunca (ou quase nunca) lê o Perfil de Usuário, é sempre necessário que os blogs em estado larval tragam um primeiro post para dizer sobre o que ele tratará, e todos aqueles outros et ceteras.

E foi essa constatação, aliada à lei do menor esforço que me fez deixar todas essas informações para serem transmitidas neste post inicial aqui, omitindo esses dados do meu perfil. Acho que a maioria de vocês achará justo.

Bem, gente, esse é o quarto Blog ao qual eu me dedico na vida. Antes dele, a matemática básica diz que houve três outros: Um bem autoral, que eu enchia de textos apócrifos de mim mesmo e poesias exageradas e mal-escritas e sem nenhuma noção de métrica; O segundo foi um revival desse primeiro, mas com o nome trocado e mais cheio de uma pretensão que não se bancava, uma vez que os posts continuavam uma bosta.

O terceiro blog da minha vida é o (infelizmente) falecido "O Editorial", projeto colaborativo com os amigos de Volta Redonda. Era muito divertido, e minha missão era, toda quarta-feira, trazer alguma coisa de interessante do meio do cinema, literatura e séries, mas sempre traçando um paralelo entre o que já existiu nesse quesito e o que existe hoje em dia.

Foram bons tempos. Eu me diverti muito. Também me estressei muito com a necessidade de postar toda quarta-feira.

Bem... O CDU surgiu de uma vontade que me veio de falar mais um monte de merda para ninguém ler na internet. Na verdade, ele surgiu de uma epifania enquanto lavava a louça, que resultou na vontade imensa de compartilhar aqui algumas coisas sobre a impressão que tive do Álbum Novo do Lourenço Mutarelli. Além do mais, eu sou um escritor emergente, e é bom para a imagem de um escritor ter um blog completamente desconhecido para virar cultzinho assim que ele for publicado finalmente.

Então, aqui está a CDU (Unidade Central de Desapontamento - Um trocadilho horrível que me veio à cabeça durante uma viagem de carro). O Post sobre Lourenço Mutarelli e sobre como eu o encontrei num beco da Rua do Ouvidor e conversei com ele fica para quarta-feira, e eu tentarei trazer outros posts de quarta-feira.

Só não esperem que eu saia postando poesia, OK? Que bom... Podemos ambos respirar aliviados agora.

Atualização N° 01: Já comecei bem, tendo de editar o primeiro post porque esqueci de falar coisas. O blog tratará de literatura, cinema e música, com uma possível e eventual adição de coisas sobre outros tipos de mídia. Como literatura engloba (de certa forma) cinema, quadrinhos e música também, então creio que bastava dizer que o blog tratará de literatura. Mas é melhor debulhar as coisas. Para não passar uma má impressão!