É hoje a data da conclusão do conto que é tão hipster que nem os hipsters estão lendo. E a culpa disso é de você, leitor, que vem até aqui, lê o conto e não passa adiante. Seja parte você também dessa história: Compartilhe o link para os seus amigos. Uma campanha da Unidade Central de Desapontamento. Governo Federal.
Não! Governo Federal, não! Não quero greve no meu blog por conta de má-administração! Bem, vamos logo à Parte III. A menos, é claro, que você ainda não tenha conferido nem a Parte I e nem a Parte II. Boa leitura!
Febre - Parte III
Crônica,
Eu sei que você me conhece há apenas algumas horas, ou
talvez nem isso... E se você aprendeu alguma coisa com o escritor, que é meu
amigo e que foi mencionado acima, não é de esperar nada de mim, ou da minha
vida, ou mesmo da sua vida de crônica. Mas, ainda assim, acho que você vai
ficar tão impressionada quanto eu com o que acaba de me acontecer próximo à
cafeteira. Se o café da Dona Jurema estava melhor? Não sei, mas imagino que
não. Acontece que eu mal senti o sabor do café, porque todos os meus sentidos
biológicos, e até mesmo alguns sentidos especulativos estavam voltados para uma
nova companheira de trabalho, que fica no Setor 2 do escritório, e que estava
lá tomando café também. Ela parece ser mais ou menos uns dois anos mais nova do
que eu apenas, mas não conversei com ela o bastante para descobrir isso a
fundo. Quando eu cheguei para pegar o café, porém, lá estava ela, comendo uma
broinha de milho para acompanhar seu copo de açúcar-negro.
Para começo de conversa, ela olhou para mim. Não como
as pessoas olham normalmente umas para as outras. Especialmente, não como as
pessoas olham normalmente para mim. Não lembro de mulheres olhando na minha
direção como ela fez, dentro dos meus olhos que ardiam em “Febre do Cubículo”,
no meu rosto mal-barbeado (e cheio de falhas na barba), no meu cabelo meio
grande, meio rebelde, meio “eu ainda não descobri que tenho vinte e oito anos”.
Tá certo que a contrabaixista de jazz olhou para mim quando eu a conheci, com
seus olhos melodiosos, mas ela estava encarando meu terno alugado. Eu não estou
de terno hoje, eu nunca estou. E aquela menina olhou para mim, mas essa não é
nem de longe a melhor parte. A melhor parte veio na mágica evolutiva que ela
causou, um totem da seleção natural, ao encher os seus pulmões com um ar
sem-graça e completamente silencioso e colori-lo, convertendo-o como uma
máquina perfeita nas seguintes palavras:
— Cara, você precisa mesmo de um café, hein?
Eu demorei a entender que era comigo. Mas, por sorte,
essa demora aconteceu apenas na minha mente, Crônica. Eu não fiquei de fato
olhando para ela estupefato como um macaco de escritório. Mas quando percebi
que era comigo, eu retruquei:
— Ah, é. Preciso mesmo... — Respondi. — Pena que esse
não seja dos melhores.
Devo confessar que parte do meu tom de voz na última
frase continha a vontade de que a Dona Jurema ouvisse, começando a incubar a
síndrome que realizaria meu sonho-acordado num futuro próximo. Mas eu não
precisaria de três ex-mulheres, e muito menos de qualquer amante. Eu teria os
cinco filhos de uma vez com apenas uma mulher: A menina à minha frente. Ela se
vestia com um estilo um pouco hippie-urbana, um pouco urbana-urbana, parecia
vir de algum bairro nobre da cidade, mas sem nenhum tom de esnobismo. Parecia
culta, parecia simpática, parecia um segundo sonho-acordado.
— Se você conhecesse o café do Jornal no qual eu era
estagiária, você escreveria uma matéria de capa sobre esse daqui.
— Pois é, eu ia comentar que ainda não te conheço...
Você seria...?
“Larissa” é o nome dela. “Larissa Puerto”. Sobrenome
espanhol. Eu gosto de sobrenomes espanhóis, sei que combinariam com o meu.
— Eu fico com as Artes agora. — Disse ela, me abrindo
oportunidade para finta.
— Uau, você fica com as artes? Que honra ter alguém
assim no jornal!
— Hahaha, seu bobo! Eu sou responsável pela seção de
artes, tá satisfeito agora?
— Muito. Bem, eu sou escritor, trabalho aqui como
cronista.
— Escritor, ou cronista?
— Eu trabalho aqui como cronista... Mas estou
escrevendo uma ficção também. — Foi aí que o nervosismo começou a se dependurar
em mim. A
cicatriz das inúmeras gravatas que já vesti foi se apertando, e as palavras
maiores foram ficando retidas. As frases e ideias iam represando-se entre as
mãos do nervosismo, permitindo que apenas as palavras menores passassem. Tinha
de ir embora enquanto ainda não estava parecendo um idiota. — Vou entrar de
licença amanhã, devo trabalhar um pouco nela.
— Licença? Tá tudo bem?
— Tudo, tudo... Sabe como é, um pouco de estresse.
— “Febre do Cubículo”?
— É, foi o que o psicólogo falou! Hehe...
— Dizem que é um pouco preocupante mesmo. Se cuida,
hein? Tenta trabalhar nesse seu livro e, talvez um dia, eu fique com o
lançamento dele.
— Você diz... Escrever...
— É, seu besta... Cobrir seu lançamento.
— Me cobrir, hehe... Seria legal! Vou tentar fazer um
bom trabalho, então. Um trabalho à altura.
E me despedi. Agora eu só tenho de finalizar você,
minha crônica-confessionário. Fechar você e trabalhar em uma irmã mais nova, em
uma irmã menor, possível de se espremer em uma coluna tão apertada quanto a
minha. Depois voltar para casa para ficar melhor, para cuidar da minha saúde, e
do meu livro. Acho que dessa vez eu consigo avançar com aqueles capítulos
problemáticos, e tornar alguns diálogos um tanto mais espontâneos. Tudo o que
eu preciso é trabalhar um pouco no livro, e me afastar desse escritório por uns
dias. E aí continuar a conversar com a senhorita Puerto, trazê-la cada vez mais
perto do meu mundo, apresentar a ela os meus hobbies, os meus defeitos, o meu
amigo escritor...
Não! Talvez ele não. Não por hora, o cara é muito
mulherengo, e muito cheio dessa autoconfiança niilista de “não acreditar em
nada”. Deixa eu curtir a menina um pouco só para mim. Tenho certeza que eu e
ela passaremos boas noites, discutindo literatura e pinturas, e ela vai gostar
de ouvir a minha opinião sobre a arte-de-rua. E falaremos de livros de mistério
e de Douglas Adams durante o banho. E ela provavelmente tem a mesma paixão que
eu pela culinária, e adorará que cozinhemos juntos, ao som de Miles Davis...
Bem, pessoal, foi esse o Conto que eu escrevi no Domingo. Gostou do conto? Gostou do personagem (que não é inspirado em mim, o personagem inspirado em mim é amigo desse)? Deixem a sua opinião ali embaixo, para que eu me sinta amado ou odiado.
Aliás, por favor, se der para compartilhar essa joça com as pessoas à sua volta que gostam de ler, eu agradeço imensamente. Convençam-nas a ler, quem sabe elas gostam? É uma boa forma de divulgação da minha escrita e, por mais que o estilo do "Febre" tenha pouquíssimo a ver com meu estilo regular, divulgação é sempre positiva. Pode me ajudar a publicar coisas algum dia!
Muito obrigado,
Muito obrigado,
Bruno.
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