terça-feira, 4 de setembro de 2012

Febre - Introdução à Parte III, seguida da Parte III e um pedido final desesperado

É hoje a data da conclusão do conto que é tão hipster que nem os hipsters estão lendo. E a culpa disso é de você, leitor, que vem até aqui, lê o conto e não passa adiante. Seja parte você também dessa história: Compartilhe o link para os seus amigos. Uma campanha da Unidade Central de Desapontamento. Governo Federal.
Não! Governo Federal, não! Não quero greve no meu blog por conta de má-administração! Bem, vamos logo à Parte III. A menos, é claro, que você ainda não tenha conferido nem a Parte I e nem a Parte II. Boa leitura!

Febre - Parte III



Crônica,

Eu sei que você me conhece há apenas algumas horas, ou talvez nem isso... E se você aprendeu alguma coisa com o escritor, que é meu amigo e que foi mencionado acima, não é de esperar nada de mim, ou da minha vida, ou mesmo da sua vida de crônica. Mas, ainda assim, acho que você vai ficar tão impressionada quanto eu com o que acaba de me acontecer próximo à cafeteira. Se o café da Dona Jurema estava melhor? Não sei, mas imagino que não. Acontece que eu mal senti o sabor do café, porque todos os meus sentidos biológicos, e até mesmo alguns sentidos especulativos estavam voltados para uma nova companheira de trabalho, que fica no Setor 2 do escritório, e que estava lá tomando café também. Ela parece ser mais ou menos uns dois anos mais nova do que eu apenas, mas não conversei com ela o bastante para descobrir isso a fundo. Quando eu cheguei para pegar o café, porém, lá estava ela, comendo uma broinha de milho para acompanhar seu copo de açúcar-negro.
Para começo de conversa, ela olhou para mim. Não como as pessoas olham normalmente umas para as outras. Especialmente, não como as pessoas olham normalmente para mim. Não lembro de mulheres olhando na minha direção como ela fez, dentro dos meus olhos que ardiam em “Febre do Cubículo”, no meu rosto mal-barbeado (e cheio de falhas na barba), no meu cabelo meio grande, meio rebelde, meio “eu ainda não descobri que tenho vinte e oito anos”. Tá certo que a contrabaixista de jazz olhou para mim quando eu a conheci, com seus olhos melodiosos, mas ela estava encarando meu terno alugado. Eu não estou de terno hoje, eu nunca estou. E aquela menina olhou para mim, mas essa não é nem de longe a melhor parte. A melhor parte veio na mágica evolutiva que ela causou, um totem da seleção natural, ao encher os seus pulmões com um ar sem-graça e completamente silencioso e colori-lo, convertendo-o como uma máquina perfeita nas seguintes palavras:
— Cara, você precisa mesmo de um café, hein?
Eu demorei a entender que era comigo. Mas, por sorte, essa demora aconteceu apenas na minha mente, Crônica. Eu não fiquei de fato olhando para ela estupefato como um macaco de escritório. Mas quando percebi que era comigo, eu retruquei:
— Ah, é. Preciso mesmo... — Respondi. — Pena que esse não seja dos melhores.
Devo confessar que parte do meu tom de voz na última frase continha a vontade de que a Dona Jurema ouvisse, começando a incubar a síndrome que realizaria meu sonho-acordado num futuro próximo. Mas eu não precisaria de três ex-mulheres, e muito menos de qualquer amante. Eu teria os cinco filhos de uma vez com apenas uma mulher: A menina à minha frente. Ela se vestia com um estilo um pouco hippie-urbana, um pouco urbana-urbana, parecia vir de algum bairro nobre da cidade, mas sem nenhum tom de esnobismo. Parecia culta, parecia simpática, parecia um segundo sonho-acordado.
— Se você conhecesse o café do Jornal no qual eu era estagiária, você escreveria uma matéria de capa sobre esse daqui.
— Pois é, eu ia comentar que ainda não te conheço... Você seria...?
“Larissa” é o nome dela. “Larissa Puerto”. Sobrenome espanhol. Eu gosto de sobrenomes espanhóis, sei que combinariam com o meu.
— Eu fico com as Artes agora. — Disse ela, me abrindo oportunidade para finta.
— Uau, você fica com as artes? Que honra ter alguém assim no jornal!
— Hahaha, seu bobo! Eu sou responsável pela seção de artes, tá satisfeito agora?
— Muito. Bem, eu sou escritor, trabalho aqui como cronista.
— Escritor, ou cronista?
— Eu trabalho aqui como cronista... Mas estou escrevendo uma ficção também. — Foi aí que o nervosismo começou a se dependurar em mim. A cicatriz das inúmeras gravatas que já vesti foi se apertando, e as palavras maiores foram ficando retidas. As frases e ideias iam represando-se entre as mãos do nervosismo, permitindo que apenas as palavras menores passassem. Tinha de ir embora enquanto ainda não estava parecendo um idiota. — Vou entrar de licença amanhã, devo trabalhar um pouco nela.
— Licença? Tá tudo bem?
— Tudo, tudo... Sabe como é, um pouco de estresse.
— “Febre do Cubículo”?
— É, foi o que o psicólogo falou! Hehe...
— Dizem que é um pouco preocupante mesmo. Se cuida, hein? Tenta trabalhar nesse seu livro e, talvez um dia, eu fique com o lançamento dele.
— Você diz... Escrever...
— É, seu besta... Cobrir seu lançamento.
— Me cobrir, hehe... Seria legal! Vou tentar fazer um bom trabalho, então. Um trabalho à altura.

E me despedi. Agora eu só tenho de finalizar você, minha crônica-confessionário. Fechar você e trabalhar em uma irmã mais nova, em uma irmã menor, possível de se espremer em uma coluna tão apertada quanto a minha. Depois voltar para casa para ficar melhor, para cuidar da minha saúde, e do meu livro. Acho que dessa vez eu consigo avançar com aqueles capítulos problemáticos, e tornar alguns diálogos um tanto mais espontâneos. Tudo o que eu preciso é trabalhar um pouco no livro, e me afastar desse escritório por uns dias. E aí continuar a conversar com a senhorita Puerto, trazê-la cada vez mais perto do meu mundo, apresentar a ela os meus hobbies, os meus defeitos, o meu amigo escritor...
Não! Talvez ele não. Não por hora, o cara é muito mulherengo, e muito cheio dessa autoconfiança niilista de “não acreditar em nada”. Deixa eu curtir a menina um pouco só para mim. Tenho certeza que eu e ela passaremos boas noites, discutindo literatura e pinturas, e ela vai gostar de ouvir a minha opinião sobre a arte-de-rua. E falaremos de livros de mistério e de Douglas Adams durante o banho. E ela provavelmente tem a mesma paixão que eu pela culinária, e adorará que cozinhemos juntos, ao som de Miles Davis...


Bem, pessoal, foi esse o Conto que eu escrevi no Domingo. Gostou do conto? Gostou do personagem (que não é inspirado em mim, o personagem inspirado em mim é amigo desse)? Deixem a sua opinião ali embaixo, para que eu me sinta amado ou odiado.

Aliás, por favor, se der para compartilhar essa joça com as pessoas à sua volta que gostam de ler, eu agradeço imensamente. Convençam-nas a ler, quem sabe elas gostam? É uma boa forma de divulgação da minha escrita e, por mais que o estilo do "Febre" tenha pouquíssimo a ver com meu estilo regular, divulgação é sempre positiva. Pode me ajudar a publicar coisas algum dia!

Muito obrigado,

Bruno.

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