quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Música? Nostalgia? "We Drift Like Worried Fire!"

DISCLAIMER: Esse é o primeiro de uma série de posts inspirados nas sugestões de meus amigos do Facebook. Eu cheguei e gritei: "MANADA! Preciso de ideias para posts de blog!", e logo tive torrentes de possibilidades. Vou aproveitar a maioria delas, e tentarei fazer um post por semana a partir das sugestões já dadas. Com isso eu sinto que o blog fica interativo, orgânico, biológico e cheio de pseudópodes para vagar pelas mentes alheias. Atentem para o fato de que o post propriamente dito já começa com uma puta frase de velho. :D


Lembro-me de quando eu tinha mais ou menos uns 17~18 anos e comecei a me desanimar fortemente com a era em que estamos vivendo, no que diz respeito à sua produção musical. Eu olhava para os lados e só o que me esmagava eram gangsta raps, músicas coloridas, sertanejos universitários e (a melhor parte) as bandinhas indie que a Mtv chamava de "A salvação do Rock", e que nada mais eram do que clones ideológicos de Strokes e Arctic Monkeys (bandas das quais eu já não gostava nem um pouco, e pelas quais passei a nutrir um ódio realmente demoníaco). Eu sabia que existiam coisas boas (garimpadas com glória) sendo produzidas, mas acho que estava naquela beirada do precipício entre a adolescência e a idade adulta, e queria me revoltar com alguma coisa pela última vez. Enquanto eu ainda tinha a velha desculpa dos hormônios e toda a mimimice de sempre.

Foi então que eu tomei a genial decisão de ficar ouvindo apenas rock and roll dos anos 60/70, e música clássica, e ficar me fechando cada vez mais para o que vem dos desgraçados, terríveis, pavorosos e doloridos anos 80 para frente. Eu não poderia estar mais equivocado ao tomar essa decisão. E fico feliz de não tê-la mantido por muito tempo.

(quase me tornei um clone do Lou Reed. #SoQueNao)

Tão logo eu me animei para ouvir o In Rainbows, do Radiohead, e os primeiros álbuns do The Mars Volta, e fui tentar explorar a discografia do Primus além do "Rhinoplasty" e do "Antipop" eu descobri o quanto os meus contemporâneos poderiam me trazer boas coisas. Eu não precisava viver me lamentando de nunca poder ir a um show do Genesis com o Peter Gabriel vestido de Raposa e o Phill Collins de boca calada destruindo a bateria como um possuído pelo demônio. Ao invés disso, eu poderia aceitar o fato de que, sim, nós estamos em uma era muito, mas MUITO positiva para os apreciadores de música!

(e obviamente não é por causa deste rapaz)

"Eu vi as melhores mentes da minha geração(...)", e isso significa que eu tive a oportunidade de descobrir que existe gente como BadBadNotGood produzindo um jazz de qualidade que, embora não seja a mesma coisa que ouvir Miles Davis, me enche de orgulho. Principalmente quando leio o disclaimer no álbum deles de que "ninguém com mais de 21 anos esteve envolvido na produção deste álbum". E se eu quero algo que me faça lembrar Miles Davis, eu posso ouvir outro cara mais jovem do que eu, que é o genial Austin Peralta, que destrói o mundo não apenas com seu piano doentio-elétrico-alucinado-virtuoso-risonho, mas com suas composições de altíssima qualidade, que tanto me fazem lembrar uma sucessão ideológica do pai do Fusion. E o melhor de tudo: Se eu quero algo que me faça lembrar Miles Davis, eu POSSO ouvir Miles Davis. E de graça. E de forma legal.


Isso porque temos, hoje em dia, um acesso praticamente ilimitado a música (só não queira tentar baixar a discografia do Screamin' Jay Hawkins. mas dá para conseguir alguns álbuns sem problema, ou comprar a porra toda em mp3). Ano passado fui ao SWU, e lá pude ter acesso aos shows do Primus, Alice in Chains, Sonic Youth e Faith no More. Esse ano, fui ao show do Focus (banda pela qual sou apaixonado desde que eu era uma criancinha que não entendia porra nenhuma de porra nenhuma). Ainda esse ano, pretendo ir ao show do Flogging Molly, do Otto, e de quem mais vier. Algumas bandas boas da "antiguidade" (afinal de contas, AiC é dos anos 1990) ainda estão por aqui. E a obra das que não estão mais por aqui ainda se encontra pelo mundo afora, disponível para influenciar nossas boas mentes. Viver como eu estava vivendo, amaldiçoando os anos 2000 e seu 50 Cent era uma total ignorância. E estou guardando o trunfo maior para o final: Vamos falar sobre Post-Rock, e sobre quatro bandas que só fui conhecer por causa (acreditem) do Facebook?

"Thee Silver Mount Zion Memorial Orchestra". Ainda vou a um show desses caras, mesmo que tenha de viajar pro Canadá para tanto.

Em 2007 mesmo (eu ainda não estava naquela revolta infantilóide toda), um amigo de infância chamado Pablo Higuchi (que o ITA o tenha) mostrou-me uma música. Era de uma banda chamada Godspeed You! Black Emperor, e constava na trilha sonora do filme "O Extermínio", do Danny Boyle. Se não me engano, eu assisti aO Extermínio na casa dele, inclusive. Enfim, o nome da música era East Hastings, e ela era algo meio orquestrado, com blues, com ruído, com cinemática... Realmente parecia um filme. Parecia um filme pós-apocalíptico à parte, encerrado em si mesmo, na música, e, por mais que a canção coubesse bem no clima de O Extermínio, dava para ver que ela era um Universo à parte. Só que, à época, eu não percebi isso (genious).

Cheguei a procurar alguma coisa do Godspeed na época. Soube que eles eram considerados Post-Rock, mas não entendi muito bem o que era o estilo (sinceramente, até hoje não consigo explicar a diferença do Post-Rock para outros tipos de rock progressivo, apesar de conseguir perceber que o gênero tem uma identidade própria forte, apesar de difícil de explicar). Peguei para ouvir um álbum deles chamado "Lift Your Skinny Fists Like Antennas to Heaven", mas não consegui dar muita atenção à época. Estava em uma fase musical distinta, ouvindo Porcupine Tree adoidado e alguma Nação Zumbi, e algum Kraftwerk. O álbum não desceu mal, mas também não me saltou aos ouvidos. Fui redescobrir o Godspeed dois anos depois, mais ou menos, através de uma outra banda de Post-Rock, God is an Astronaut, apresentada a mim pelo meu queridíssimo Matheus Calvelli. O GIAA me chamou atenção, e me lançou em direção a um mundo de Godspeed, Mogwai, Explosions in the Sky, Sigur Rós e, por fim, a minha preferida, que é o Silver Mt. Zion da foto acima. O post-rock do fim dos anos 1990, início dos 2000 serve uma refeição musical muito decente, que me enche de felicidade por estar vivo, respirando e escutando música nessa era digital. Se eu vivesse nos anos 60/70, poderia ir a um show dos Doors (ou não, porque eles deviam ser carinhos, e nunca vieram ao Brasil), mas jamais teria a oportunidade de correr escutando "There is a Light", que dirá em um mp3 player. Da mesma forma, eu posso escrever alguns contos ouvindo Miles Davis e Jimmy Smith e, ainda assim, utilizar Post-Rock para gerar a atmosfera propícia para trabalhar no meu livro de ficção científica irônica.

Agora, a última história, o último parágrafo, e aí podemos voltar todos para nossas casas. No início desse ano estava Derpin' Around no Facebook e vejo um ad lateral: "Fã de 'Mogwai' e 'Godspeed You! Black Emperor'? Confira aqui o som do 'Labirinto', banda de pós-rock paulista.". Acho que vocês concordam que esse não é um ad ordinário, uma vez que ele não me oferecia nem botox, nem emagrecimento, nem rodízios de gordura tostada. Pus para tocar o som da banda e... BANG! Tomei um tiro direto nas zonas de prazer musical do meu cérebro. Juro que a primeira coisa que eu pensei foi "Essa porra não pode ser de verdade!". E isso foram só as primeiras linhas de guitarra acompanhada pelo cello. Me tornei um fã confesso e dedicado do Labirinto, comprei os dois álbuns, vou comprar a camiseta, e divulgo o som dos caras sempre que tenho oportunidade. (Se você está lendo isso e produz eventos no Rio de Janeiro, ou conhece quem produza, peça para que ALGUÉM promova um show do Labirinto aqui, pelamoràvida!). Depois de curtir o Labirinto, o facebook me trouxe também o Kalouv, uma banda de Recife ainda não-tão-madura quanto o Labirinto (até porque eles começaram há bem menos tempo), mas isso não é, de forma alguma, um problema. O Kalouv produz um som de qualidade muito nice, e que mistura um pós-rock "de várzea" com algumas toadas de jazz e algo até mesmo de praiano, extremamente tropical (não me arrisco a dizer "Surf-Music" porque não tem grandes tons de Dick Dale por aqui não). Anteontem, um ad similar ao que me levou ao Labirinto me chamou atenção: "Fã de Post-Rock, Jazz e Rock Progressivo? Ouça aqui o primeiro álbum do sexteto carioca 'Deus Nuvem'", ou alguma coisa assim. Novamente, quando pus para tocar, tomei um tiro no psicológico. Vale MUITO a pena ouvir o álbum do sexteto carioca "Deus Nuvem". Detalhe que as três bandas para as quais eu postei o link até agora têm seu trabalho totalmente gratuito disponibilizado em seus sites. O mesmo vale para a Mutuca Bacana, que me foi apresentada pelo meu caro Lianto Segreto, amigo de infância do meu irmão! Essa é a que menos ouvi até agora, mas gostei bastante do resultado. Apesar de o nome parecer com essa linha de músicas bacanudinhas de gente bacanudinha, no estilo de Cachorro Grande e Mop-Top, mas está muito mais próximo dos Mutantes do que a mente ousa crer. O que não quer dizer, vejam bem, que a banda não é original! Muito pelo contrário, eles têm um som com bastante identidade.

Então é isso, gente. Fica a reflexão final de que... Não, não irei nunca a um show do Led Zeppelin, e nem você irá! A não ser que arranjemos um DeLorean com um bom capacitor de fluxo. Mas podemos ir a festivais como o SWU 2010 e ouvir o Mars Volta (tecnicamente, para tal, precisaremos do DeLorean também). Podemos ser testemunhas oculares do lançamento de outras bandas, podemos venerar o Deus Nuvem e o Labirinto, podemos ouvir o álbum novo do Godspeed You! Black Emperor que acaba de vazar na internet. Lamentar a "perda" das grandes bandas que vieram no passado distante, embora válido como qualquer lamento, é meio perda de tempo. Nunca iremos a um show do Led Zeppelin, mas podemos assistir "The Song Remains the Same" com o volume no máximo, e dá até para abrir uma cerveja enquanto assiste. É a mesma coisa? Nem fodendo por nada!!! Mas pelo menos temos esse paliativo. A mensagem já foi passada e reforçada. Agora eu vou lá.

(Agradeço a meu amigo Júlio Victor pela ideia do Post. Confiram o projeto musical dele de noise-alternativo fodão e levemente perturbador, o Rabbithole. Fiquem agora com o álbum novo do Godspeed que mencionei acima. Foi o meu presente de aniversário do Caos. Já ouvi pelo menos 7 vezes desde ontem :) )