terça-feira, 18 de setembro de 2012

"Nariz de Palhaço"

Olá, crianças e degenerados sociais e outras classes de fãs da CDU. Na onda de publicação de contos miseráveis que o blog anda tendo ultimamente, trago a vocês um conto um tanto antigo, que foi feito para servir de background para um personagem em um projeto infantilóide de RPG-by-forum para-literário que não foi para frente. Mas eu gostei do personagem, ainda assim. Só não gostei tanto assim do conto, pelo menos não como uma produção literária de peso que me enchesse de orgulho. Ainda assim, lá vai.

Para os fãs de literatura de fantasia / suspense / terror residual. Talvez possa até ter mais valia do que eu dou a ele, mas eu sinceramente duvido um tanto. Divirtam-se!

Nariz de Palhaço

“Eu ainda não sei porque eu estou escrevendo essa porra dessa carta. Deve ser a ansiedade. Como ela vai fazer minhas mãos tremerem mesmo, que essa tremedeira seja aproveitável na forma de caligrafia. Pode não estar das melhores caligrafias, ou das melhores cartas. Mas quando eu pontuá-la, vocês saberão o porquê. 

Pensando bem, acho que eu deveria tentar me acalmar antes de escrever o que pode ser a última carta da minha vida. O destinatário é você, quem quer que você seja. Provavelmente, será o dono do hotel, querendo saber onde está o aluguel. Peço que não jogue isso fora, e entregue para a minha banda. Eles saberão o que fazer. Deixarei o telefone do nosso baterista no verso da carta para que você possa contatá-lo. Mas vamos logo ao assunto principal. Hoje, eu saio para meu primeiro encontro face a face com o Kh’loon. Levando em conta a reputação do cara, foi até muito fácil entrar em contato com ele e marcar esse encontro. Mas acho que estou começando isso pelo lado errado. 

A história da minha crescente obsessão com este serial killer em especial começa com a morte do meu cachorro. O Kh’loon não matou meu cachorro, isso seria ridículo da parte dele. O Tyrant morreu atropelado. Acontece que eu era muito ligado com aquele daschshund, e ele era o maior fã da minha banda. Um cachorro tão inteligente quanto aquele não poderia ter a morte passada em branco. Portanto, fui atrás do pessoal do Detroit News para inserir seu nome no obituário, tudo para receber um tratamento de merda. Tá que eu tinha bebido algumas Heinekens no caminho, mas mesmo um ser humano bêbado mantém seu status como um ser humano. Ele deve ser tratado como tal. Mas eu entendo. O obituário estava cheio de nomes para serem inseridos naquele dia. Nomes diferentes de Tyrant, pertencentes a criaturas diferentes do meu Tyrant. Eram nomes humanos. Vinte e três deles pertenciam a crianças de um orfanato em Wayne County. Vários outros pertenciam aos funcionários presentes no momento do incêndio. Aparentemente, o incêndio que consumiu o orfanato até transformar toda a alvenaria em alguma coisa de valor inferior a carvão vegetal de baixa qualidade não foi completamente acidental. Somando esses trinta e tantos nomes aos que rotineiramente já aparecem em um obituário, eles estavam sofrendo de falta de espaço. Ou seja, ‘no dogs allowed’. 

Voltei para casa morto de frustração, e ensaiei com a banda até que os meu diafragma se reduzisse a uma tripa espástica e incapaz de converter um saxofone numa máquina de música. Depois do ensaio, voltei do estúdio para casa andando. É longe, mas não tanto. Mas ainda assim, é longe, e tornou-se ainda mais longe sem um canino farejando e sugando metade do caminho pelas suas narinas espertas. Não é que eu não tenha ficado puto pelas crianças, é claro que eu fiquei! Mas ainda não tinha tido tempo de pensar nisso direito. Assim que eu liguei a televisão, vi um policial dando entrevista, falando que este crime provavelmente tinha conexão com outros dois. Outros dois... Já é um assassino em série. Quando o retrato falado do suspeito foi exibido, meu interesse no caso redobrou. Parecia um palhaço apavorante de circo. 

Deixe eu explicar algumas coisas sobre mim. Meu nome é Neal Gaiman, o que provavelmente faz de mim a mistura de duas personalidades literárias estranhamente díspares. Talvez venha daí a minha fixação por mistérios, especialmente aqueles realmente bem sangrentos. O policial na tevê falava, através de um áudio chiado que meus ouvidos aprenderam quase que instintivamente a filtrar, que o culpado apresentou-se no orfanato como um palhaço, para fazer alguns truques de sombras com as crianças. A maioria delas ficou perturbada com a aparência do palhaço, e com a natureza de suas histórias. Isso tudo foi relatado por uma sobrevivente que, exceto por uma das pernas, conseguiu escapar do incêndio. A perna ela teve de deixar lá, mas nada foi dito a respeito disso na tevê. Sabendo o que sei hoje, é capaz de o filho da puta ter arrancado a perna dela com seu punhal. Mas isso é apenas minha mente de Sherlock tentando funcionar. 

A tal cozinheira disse que as crianças começaram a se queixar de frio, e realmente começou a esfriar um tanto à medida em que o palhaço ia ficando mais irritado e frustrado com a desaprovação. A mulher lembra-se claramente de ouvi-lo gritando, em meio às chamas “E agora, vocês estão com frio, seus fedelhinhos de merda? Hein? As fadinhas estão com frio agora?”. Aquilo me perturbou profundamente. Mas, como disse, a perturbação e a fascinação tornam-se muito próximas na minha cabeça, e eu logo quis saber mais sobre esse cara. Ler mais, tentar resolver o caso. Como se eu fosse alguma coisa além de um ex-estudante de jornalismo que toca saxofone em bares e puteiros de meia estrela. 

Eu tinha um ponto a meu favor. Não é todo mundo que tem estômago para lidar com esse tipo de caso. Os federais provavelmente iam demorar um tanto a atacar, e isso me dava cem ou duzentos metros de distância. Aproveitei um pouco disso, e comecei a ler matérias a respeito do caso na internet. E é nesse ponto que a tampa do bueiro estoura, puxando-me para baixo, numa espiral de sombras e excremento. Não literalmente, claro. Isso seria grotesco. 

Aos poucos, eu fui procurando artigos em blogs, aprendendo um pouco mais sobre o cara. A aparência era o mais notável, e foi essa aparência singular que me fez achar alguns links um tanto mais obscuros. Foi através de algumas páginas de Deep Web (Invisible Web, para alguns) que eu encontrei algo que, aparentemente, era um dossiê sobre o cara. Eu tinha parceiros de obsessão, ao que parece, e o conhecimento deles sobre o Kh’loon, como o homem era chamado, era muito extenso. Agora que sei um tanto mais sobre a natureza do Kh’loon, acho que chamá-lo de homem seria dar a ele uma denominação errada. Talvez a palavra ‘criatura’, ou mesmo ‘coisa’ descrevesse melhor. ‘Entidade’. Eu gosto de ‘entidade’. É uma palavra de força. 

Nesse ponto, eu já estava consumindo café como um louco, isso para não falar dos cigarros e do whisky. Do mais barato possível. A falta de sol, os hábitos pouco saudáveis e mesmo a obsessão estavam tomando minha mente e meu corpo de tal forma que eu dificilmente voltaria a tocar meu sax como eu fazia antigamente. Meu dinheiro estava acabando, e meus amigos, quando apareciam, ficavam desconfortáveis ao notar meu aspecto, que ainda era muito arrumado levando em conta o pardieiro no qual meu apê tinha se transformado. Eu estava vivendo num lixo. Mas por trás daquelas pálpebras narcoticamente insones, daqueles olhos injetados de cafeína e do vermelho que apenas noites despertas podem trazer, existia uma enciclopédia se formando sobre o Kh’loon. Registros históricos sobre palhaços capazes de certas proezas incomuns são pouquíssimos, pois palhaços sempre foram uma classe um tanto renegada de gente. Mas os poucos destes registros que tratam de um ser com aquela aparência estranha do Kh’loon, com olhos de diamante arroxeado e roupas combinando listras brancas e vermelhas com um tecido de negro intenso, datam das mais estranhas, remotas e espaçadas épocas. Sempre trazendo atrás de si um metálico rastro sanguinolento, o Kh’loon já existiu como assassino em várias eras. 

O encontro de uma campanha de Templários com um árabe em especial, por exemplo, vestido com roupas extravagantes e carregando um tipo diferente de cimitarra fez com que os europeus fossem, um a um, estripados da forma mais desumana e brutal que a maioria deles já tinha visto. Antes ainda disso, um evangelho apócrifo menciona que Judas, ao trair Jesus Cristo, vestia-se com roupas berrantes, com padrões de cores considerados deselegantes para aqueles de sua época. Mas quando foi encontrado morto por seus compatriotas judeus, ele tinha retornado à sua aparência comum. Possivelmente, a loucura que o levou à corda, também tinha a ver com seu contato com o Kh’loon. Este mesmo site especula que mesmo o assassinato de Abel tenha tido alguma relação com a criatura, mas não se baseia em nada. Isso é algo que me chateia hoje em dia. As pessoas saem vomitando teorias descabidas sobre a cabeça umas das outras. A minha sorte é ter um belo chapéu de abas largas chamado bom-senso. É lendo frases como esta que eu penso que não ter seguido carreira como jornalista foi uma boa ideia. 

A origem proposta para o Kh’loon é a de que ele chegou à Terra junto com um meteoro expelido por uma galáxia distante daqui. Após a expulsão deste meteoro, diz o site, também sem nenhuma fonte citada, a frequência e a intensidade das explosões solares, e a velocidade de colisão entre os corpos celestes diminuiu drasticamente dentro da galáxia. É engraçado ver que eles não dizem o nome da tal galáxia porque, segundo o site, ela ainda não foi descrita pela astronomia moderna. Mas essa história toda, por mais inverossímil que parecesse, estava chegando até minhas zonas de cognição e memória como uma inquestionável e dogmática teia de palavras. Fato é que, após a possível chegada do Kh’loon, os homens de neandertal estranhamente sumiram do mapa. O site diz que tanto a criação da figura do palhaço quanto o medo que algumas pessoas sentem (principalmente na infância) ao serem confrontados com estes personagens, podem ser resquícios da memória coletiva de nossa espécie, dizendo-nos ‘Palhaços são interessantes. Mas eles podem ser perigosos também.’. 

Algumas outras personalidades como, provavelmente Jack, o Estripador (tão pop e controverso que eu prefiro nem acreditar), um pirata holandês sanguinário que saía queimando navios, estuprando e mutilando mulheres de cidades portuárias e acumulando tesouros (a possível origem da lenda do holandês voador), um gladiador assassino de cristãos-novos que teria entretido três gerações de imperadores romanos, ao apresentar a eles um teatro de fantoches feitos de vísceras e olhos de suas vítimas... Existiam várias histórias. Poucas delas se confirmavam. Mas era um site escondido de tudo, eu não podia exigir muito. 

Depois de um tempo, acho que um mês e meio, eu comecei a me acalmar um pouco, e deixar essa história de lado. Se tudo o que o site falasse fosse só a teoria de alguém, que não merecia menos a camisa de força do que o assassino de vinte e três crianças, então toda a informação que eu tinha sobre o assassino era um conjunto de boatos escrotos e desconexos que não me levariam a lugar nenhum. Se fosse verdade, o que eu poderia fazer contra uma criatura de origem tão obscura e de calibre tamanho? Eu estava determinado a parar... Entrei em contato novamente com os Muglings (minha antiga banda), e estava ensaiando mais e entrando naquele site cada vez menos. Os assassinatos tinham parado também. Talvez até mesmo o Kh’loon fosse capaz de sentir-se mal pela morte de tantas crianças de uma vez. 

Eis que ontem eu entro novamente no site, apenas por curiosidade, e vejo um post novo, dizendo que o Kh’loon foi avistado entrando em um apartamento, em um endereço que irei omitir daqui para poupar aqueles que possam ler essa carta. Se eu não voltar, é porque o cara, ou o que quer que ele seja, é realmente perigoso (de forma sobrenatural ou não), e eu não quero que ninguém siga meus passos até aqui, e tenha o mesmo fim que eu tive. Caso eu volte, essa carta sequer será lida... Então... Foda-se! O fato é que consegui contatar o morador deste endereço, via telefone. Ele diz ser realmente o Kh’loon, diz estar arrependido do que fez (o que o levou a escrever aquele post no site), e disse estar disposto a parar de matar, mas ele precisará de ajuda. Da minha ajuda. Pediu para que eu aparecesse por lá hoje, por volta de vinte horas. É uma hora daqui lá. Ele pediu para que eu avisasse a polícia, para que eles fossem até o endereço às vinte e quinze. Ele quer conversar um pouco comigo antes de ser colocado brutalmente em uma viatura e conduzido a uma estrada imoral, que desembocaria em três seringas injetando químicos letais nas suas veias incompreendidas. Filho da puta. 

Então é isso. A polícia já está avisada, e vocês que ficaram para trás também estão avisados. Sei que essa carta jamais será lida, mas ainda assim queria escrevê-la, mais como uma forma de matar o tempo do que para informar a alguém. Além do mais, é uma forma de diminuir a ansiedade. Fora que ler toda essa história e ver como tudo é tão ridículo... Tanto a minha obsessão quanto essa história de galáxia, neandertais e Judas Iscariotes... Tudo tão pateticamente ridículo, que eu não tenho motivo algum para ter medo. Meu trem sai em dez minutos. Chego na estação em seis. Então acho melhor ir andando. 



Com algum sentimento positivo, mas não necessariamente amor, 



Neal Gaiman.” 



(MUDANÇA DE CALIGRAFIA) 



Foi muito divertido e edificante isso tudo. Atrair o senhor Gaiman para minha casa foi fácil. Levando em conta a quantidade de acessos vindos deste apartamento de hotel dele àquele site estúpido que algum imbecil criou, foi fácil criar a isca. Sabia que a perícia em computação desse último hospedeiro era boa. Qual era o nome dele? Ah! Dane-se... Falemos do senhor Neal Gaiman. Ele era perfeito: Sem crimes passados, uma vida comum e apagada, um total perdedor. A habilidade em música é interessante, claro. É bom ter algo para me distrair. 

Quando eu disse a ele que eu queria sossegar, eu realmente queria. Não é bom usar o mesmo corpo por muito tempo. Pelo menos não quando você começa a chamar atenção demais, como eu acabei fazendo. Tenho de me controlar mais. Meu hospedeiro anterior, porém, era um incendiário. E um pedófilo. É uma merda quando você pega uma lata de sardinhas que já vem estragada. Tira toda a graça de cuspir dentro dela e esperar apodrecer. Agora, o senhor bonzinho aqui... Vai ser uma beleza quando ele começar a matar. Para os amigos, o fato de ele estar se vestindo como o Kh’loon se vestiria, vai parecer extremamente normal. Afinal de contas, ele tinha ficado viciado em tudo o que dissesse respeito a mim. Um infeliz que arranjou um vício perturbador para se perverter. É até engraçado. Só é uma pena ter que dividir esse corpo com alguma estupidez residual do senhor Gaiman. Tudo bem, já estive em situações piores. Acho que vou gostar de viver uma vida normal. Mas isso até o meu punhal acordar, e a cascata começar a cair de novo. E ela cairá, e cairá, e todo o mundo irá se afogar na essência dele mesmo! Ah, eu mal posso imaginar a cara daqueles peixezinhos de pele flácida ao olharem na cara maquiada daquele que os pescará e sugará os olhos desorientados de seus crânios amarelos e primitivos. 

O cara anterior já deve estar preso agora. Completamente louco. Com o estojo de maquiagem do lado, e uma cópia malfeita das minhas roupas. Eu nunca soube costurar. Nem ele, ao que parece. Mas isso não importa. O que basta é dar à polícia um suspeito, e eles não se importam tanto assim se ele é igual a mim ou apenas parecido o bastante. 

Essa carta foi útil. Resumiu tudo aquilo sobre mim que não tive paciência de ler naquele site mal-projetado. Tem algumas merdas, é claro! Sempre tem. Quando você vira uma lenda, tem que conviver com a diferença entre aquilo que você realmente fez e aquilo que a lenda fez. Porque você vira duas pessoas nesse momento. Ainda bem que eu já estou bem acostumado a ser duas pessoas. Hahaha! Rir no papel não faz muito sentido. Mas ter essas memórias anotadas é algo bom. Quando se viveu tanto quanto eu, as memórias começam realmente a se misturar e se desintegrar numa poça escura da mente. 

Eu lembro muito bem de ter me unido àquela galáxia. Theridor era o nome dela. Ela era linda e pacífica. Mas não muito de paz sobrou nela depois que seus planetas habitados começaram a se chocar. Nunca me diverti tanto. Pareciam pelucinhas gritando, com a diferença de que estes derramavam fluidos e faziam sonzinhos. Eram legais. Lembro-me também de ela arrancar o nariz de seu centro, e de eu viajar pelo Universo até chegar à Terra. Mas eu não me lembro de extinguir uma espécie inteira de hominídeos. Deve ter sido divertido. 

Outro ponto no qual eles erraram foi naquele texto parvamente mal escrito, sobre o navio pirata... De fato aquele notável capitão realizou coisas não muito nobres com sua adorável tripulação, mas ele não foi meu hospedeiro. O navio foi. E, aos poucos, eu fui conseguindo me infiltrar na mente de cada um daqueles marujos. Foram anos notáveis aqueles. Quando eles içavam minhas velas e eu sentia o vento a impulsionar não apenas minha carcaça decrépita, mas meu desejo de saciar a sede da minha garganta e do meu pinto... Na forma de pequenos fantoches, é claro, mas ainda assim. Pena que eu não saiba como fazer isso de novo... Isso de fantasmagoricamente me infiltrar nos atrofiados cérebros primatas, e deixar lá uma semente de meu caos. 

Essa baboseira de Caim é que não faz sentido algum, e esses caras sequer existiram de verdade. E o tal do Judas...? Que porra é essa de Judas? Nessa época eu estava na América Central, sendo reverenciado como um deus, e exigindo corações em tributo a mim. Acho que até os Maias tiveram medo de registrar na escrita que eu comia aqueles corações todos. Eu era muito adolescente na época. Gostava de chocar. Amadureci muito ultimamente. Mas sinto falta daquela sensação... A de ser representado com a forma de um monstro, porque a minha forma real seria medonha demais para que os artesãos a quisessem esculpir. A sensação de ser, numa acepção bem particular e esquizofrênica da palavra, um deus entre os homens. E eu fui um deus, mas fui um deus de ‘ontens’. Agora? Eu esqueci metade dos truques daquela época. Não preciso mais deles, vivemos entre homens fracos agora. Além disso, escolhi um hospedeiro sem muita coisa especial. De propósito. Para ter o prazer de mijar nessa impecavelmente esterilizada lata de sardinha, e sentir cada alteração acre no aroma dessa carne que, de outra forma, seria o alimento perfeito para uma sociedade de homens fracos. Mas sobre ser um deus, não é mais tempo disso agora... Agora eu sou só um palhaço desorientado, tentando encontrar novamente o ato que tenho de representar nesse circo patético que chamam de realidade. Eu lembro que eu tinha uma função... Mas qual seria ela mesmo?

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