segunda-feira, 24 de novembro de 2014

[POEMA] Monólogo em uma loja de bolsas

Eu preciso de uma bolsa nova.
A que carrego comigo está rasgada demais, surrada demais,
Sinto-a suja pressionada contra minhas roupas,
E espaçosa, e desconfortável.

Eu preciso de uma bolsa nova na qual eu possa guardar minhas memórias.
Não, não venha me dizer sobre "Utilizar até o fim". Esse é o fim.
Já não posso mais fingir que essa mochila aguenta sequer mais um dia,
Sem uma mudança radical em sua forma, e em sua organização interna.
Essa é uma bolsa morta.
Suas alças já não aguentam mais o próprio peso e ela me escapa do controle toda hora.
Continuar exibindo-a por aí, com um sorriso fingido, enquanto meus dias escapam por seus rasgos
                                                                                            [de tecido puído seria irresponsável.
Eu preciso de uma bolsa nova!

Preciso de uma que seja menor e mais calma.
Uma que não esbarre tão dolorosamente naqueles à minha volta.
Uma que não comprima aquilo que há em mim, que não torne tudo em espinhos voltados para todos                                                                                                                                     [os lados.
"Desculpe, caro amigo!"
"Foi mal te ferir, menina!"
"É essa minha bolsa velha, cheia de remendos. Ela anda pesada demais ultimamente."
"O ônibus sacolejou, eu não consigo ficar em pé direito com isso nas costas!"

Preciso guardar minha alma em uma bolsa diferente, vocês veem...
Que não mais soterre meus problemas em um fundo falso de escapismo,
Onde caiba minha mente inteira, minha rotina inteira, e ainda haja alguma folga.
Preciso de uma bolsa onde caiba um instrumento musical,
Alguns livros, talvez,
E que proteja melhor meus frascos de tormenta.
Algo de tecido não inflamável,
Com zíperes que funcionem melhor,
Algo que não questione tanto o porquê de encerrar em si coisas pesadas e amargas.

Uma bolsa com estampa mais serena.
Onde caiba um tanto de perdão para mim e para os outros.
Que não tenha um compartimento para tanta autoflagelação, eu não preciso tanto dela assim.
Algo que não agrave minha escoliose,
E que não carregue em si o logotipo
"Samsara, LTDA"

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