terça-feira, 11 de novembro de 2014

[POEMA] Matéria Escura

A noite se desbrava com a estrela solitária de um cigarro.
Meus passos não ecoam na calçada. Apenas a minha mente é ampla e vazia o bastante.
Existe um calor à solta. E eu nem sequer me importo mais em caçá-lo,
Em extingui-lo com uma chama fria, com uma água morta.

Hoje é um dia de alegrias vulgares,
De revoadas tristes.
Não sinto falta da cidade que se alicerçou na minha pele e se entrançou nos cabelos.
A minha música ficou para trás, e o silêncio já não soa estranho.

Não choro mais minha cincuncisão da alma,
Minha circunscrição afoita.
Não choro mais o sangue dos valentes, que se perderam nos meus olhos parvos.

Eu vejo a vida em lentes embaçadas
E não me importa em nada.
Porque de um palácio de trinares de ave,
Eu escolhi dançar entre os morcegos.
Minhas mãos têm queimaduras do outrora,
E a memória já se esconde aos ventos.

Foi-se o apetite de engolir o mundo, apenas o encaro em sua vitrine infecta.

Ontem havia uma floresta, hoje o nada.
Não lamento.
Entrego ao nada um presente de parelhas brancas

desencaixadas

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Já havia dito outrora que deveria escrever mais poemas... Augusto dos Anjos inveja vossa visceralidade =p

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    1. Eu havia respondido seu comment e não apareceu aqui :O

      Obrigado pelo elogio, Marininha. Eu sei e você sabe, porém, que o Augusto era o mestre da visceralidade! Mas fico feliz que tenha lhe agradado, anyways!

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